“Ganhei mil euros com as minhas palavras”
Luísa Morgado tem 17 anos e ganhou o prémio literário das Correntes d’Escritas para jovens. Jardins Vazios de Novembro foi o conto que lhe valeu mil euros, entregues pela Papelaria Locus, na Póvoa de Varzim.
"Trabalhei o Verão inteiro [num bar] e não
ganhei tanto”, conta ao Life&Style a aluna do 12.º da Escola
Secundária José Gomes Ferreira, em Lisboa. “Por isso, mil euros parece
imenso”, diz, desafiando os jovens como ela a contar histórias.
“Concorram, participem. Escrever um conto de duas páginas pode dar a
oportunidade de ganhar mil euros. É de tentar, não?”, sugere com
assertividade. E acrescenta: “Ganhei mil euros com as minhas palavras e
também uma viagem à Póvoa, com os meus pais e o meu irmão. Foi uma
festa.”
A ideia para o conto foi buscá-la por observação de uma
família do bairro onde vive e que a levou a questionar-se: “Pode uma
pessoa ficar doente mental assim do nada?” Concluiu que seria possível e
começou a imaginar motivos para alguém se desligar do mundo. “Como sei
que essa pessoa tem um filho, tentei imaginar-me na pele dele. Não sei
as causas reais do problema dela, mas construí o meu texto a partir
daí”, explica.
(…) “Cada baralho tem cinquenta e duas cartas.
Quatro naipes – espadas, copas, paus e ouros – com treze cartas, três
delas figuras”, explicava ele.
As cartas deslizavam entre
os dedos ossudos, em movimentos complexos que Fernando fazia parecer
mais simples do que eram. Procurava, constantemente, os olhos da sua
mãe, garantindo que ela o ouvia, e continuava a explicação sobre como
jogar às cartas.
Não procurava palavras. Já desistira das
palavras desde a juventude e aceitara o silêncio de Teresa. Rendera-se
ao silêncio vago, permanente – embora mantivesse a esperança de que
fosse temporário – e doloroso. (…)
Luísa Morgado soube do
concurso através do seu professor de Português, Luís Prista. “Ele motiva
muito os alunos. Só da minha escola, por causa dele, concorreram 56
alunos.” Mais de metade do total de participantes, 95.
“O prémio
existe há dez anos e foi uma proposta da própria Papelaria Locus, que
desde a primeira edição organiza a feira do livro que acompanha as
Correntes d’Escritas”, explica Manuela Ribeiro, da organização do
encontro literário anual da Póvoa de Varzim e jurada deste concurso.
O
valor do prémio, pago em dinheiro, é assegurado por aquele
estabelecimento comercial. “Começou por ser de 500 euros, mas aumentou
quando o prémio do Casino [para livros já publicados] passou de 15 mil
para 20 mil euros. Os responsáveis pela papelaria quiseram também dar um
maior estímulo aos leitores dos 15 aos 18 anos”, conta a funcionária do
gabinete de projectos culturais da câmara.
A origem geográfica
dos participantes vai variando, não se concentra na Póvoa, dispersa-se
por todo o país e por países falantes de português. “Houve um ano em que
o vencedor foi um jovem brasileiro. Nesta edição tivemos vários textos
vindos do Brasil (de várias regiões) e um de Cabo Verde.” Noutros anos,
Moçambique e Angola também estiveram representados. “Isto deve-se à
divulgação através do Instituto Camões”, lembra.
Ora contos, ora poemas
Não
há temas previamente estipulados para os textos concorrentes nem limite
de páginas. “É um concurso livre, livre, livre”, diz Manuela Ribeiro. A
única regra é a alternância entre contos e poemas. “Na próxima edição,
será premiada a poesia.”
Fonte: Lifestyle.publico.pt
Sem comentários:
Enviar um comentário