quinta-feira, 6 de março de 2014

Prémio literário das Correntes d’Escritas para jovens

“Ganhei mil euros com as minhas palavras”

Luísa Morgado tem 17 anos e ganhou o prémio literário das Correntes d’Escritas para jovens. Jardins Vazios de Novembro foi o conto que lhe valeu mil euros, entregues pela Papelaria Locus, na Póvoa de Varzim.
"Trabalhei o Verão inteiro [num bar] e não ganhei tanto”, conta ao Life&Style a aluna do 12.º da Escola Secundária José Gomes Ferreira, em Lisboa. “Por isso, mil euros parece imenso”, diz, desafiando os jovens como ela a contar histórias. “Concorram, participem. Escrever um conto de duas páginas pode dar a oportunidade de ganhar mil euros. É de tentar, não?”, sugere com assertividade. E acrescenta: “Ganhei mil euros com as minhas palavras e também uma viagem à Póvoa, com os meus pais e o meu irmão. Foi uma festa.”
A ideia para o conto foi buscá-la por observação de uma família do bairro onde vive e que a levou a questionar-se: “Pode uma pessoa ficar doente mental assim do nada?” Concluiu que seria possível e começou a imaginar motivos para alguém se desligar do mundo. “Como sei que essa pessoa tem um filho, tentei imaginar-me na pele dele. Não sei as causas reais do problema dela, mas construí o meu texto a partir daí”, explica. 
(…) “Cada baralho tem cinquenta e duas cartas. Quatro naipes – espadas, copas, paus e ouros – com treze cartas, três delas figuras”, explicava ele.
As cartas deslizavam entre os dedos ossudos, em movimentos complexos que Fernando fazia parecer mais simples do que eram. Procurava, constantemente, os olhos da sua mãe, garantindo que ela o ouvia, e continuava a explicação sobre como jogar às cartas.
Não procurava palavras. Já desistira das palavras desde a juventude e aceitara o silêncio de Teresa. Rendera-se ao silêncio vago, permanente – embora mantivesse a esperança de que fosse temporário – e doloroso. (…)
Luísa Morgado soube do concurso através do seu professor de Português, Luís Prista. “Ele motiva muito os alunos. Só da minha escola, por causa dele, concorreram 56 alunos.” Mais de metade do total de participantes, 95.
“O prémio existe há dez anos e foi uma proposta da própria Papelaria Locus, que desde a primeira edição organiza a feira do livro que acompanha as Correntes d’Escritas”, explica Manuela Ribeiro, da organização do encontro literário anual da Póvoa de Varzim e jurada deste concurso.
O valor do prémio, pago em dinheiro, é assegurado por aquele estabelecimento comercial. “Começou por ser de 500 euros, mas aumentou quando o prémio do Casino [para livros já publicados] passou de 15 mil para 20 mil euros. Os responsáveis pela papelaria quiseram também dar um maior estímulo aos leitores dos 15 aos 18 anos”, conta a funcionária do gabinete de projectos culturais da câmara.
A origem geográfica dos participantes vai variando, não se concentra na Póvoa, dispersa-se por todo o país e por países falantes de português. “Houve um ano em que o vencedor foi um jovem brasileiro. Nesta edição tivemos vários textos vindos do Brasil (de várias regiões) e um de Cabo Verde.” Noutros anos, Moçambique e Angola também estiveram representados. “Isto deve-se à divulgação através do Instituto Camões”, lembra. 

Ora contos, ora poemas 

Não há temas previamente estipulados para os textos concorrentes nem limite de páginas. “É um concurso livre, livre, livre”, diz Manuela Ribeiro. A única regra é a alternância entre contos e poemas. “Na próxima edição, será premiada a poesia.”
Por Rita Pimenta

Sem comentários:

Enviar um comentário