"Repudiando
a violência" como sempre fez na sua obra, Saramago escreveu nos últimos
meses de vida Alabardas,
alabardas, Espingardas, espingardas, escreve Pilar del Río no editorial da
revista Blimunda. Essa
obra que o escritor não chegou a terminar vai ser publicada pela Porto Editora
em Outubro, anunciou a presidente da Fundação José Saramago na revista desta
instituição.
O número 26 da revista Blimunda, que pode ser descarregado na internet gratuitamente,
abre com o editorial Contra a
Guerra em que Pilar del Río,
mulher de José Saramago, explica que o inédito do autor português vai
ser publicado simultaneamente em português, espanhol, catalão e italiano.
"É um trabalho conjunto das várias editoras de Saramago na Europa e na
América do Sul", disse Ricardo Viel, da Fundação José Saramago ao PÚBLICO.
Cada uma destas edições terá, portanto, qualquer coisa de diferente e a edição
da Porto Editora não será por isso igual às obras do Nobel da Literatura
1998 que esta editora publicou em Maio.
Apesar desta obra estar incompleta, José Saramago tinha a
obra estruturada – “há umas notas com o argumento”, diz Ricardo Viel. “O pouco
que temos é o núcleo, é algo de muito concreto”, conta, acrescentando que
Saramago tinha até a última frase do livro. “São poucos capítulos, mas o tema
fica claro, o texto tem unidade”, acrescenta Pilar del Río.
Não há mais nada escrito por Saramago – para além da
correspondência pessoal – que ainda não tenha sido publicado. Este é, por
isso o seu derradeiro romance. “Talvez conduzido pela urgência de não morrer
sem dizer tudo, pôs-se a escrever, quando faltavam uns meses para a sua morte”,
conta Pilar del Río na revista Blimunda.
Para a tradutora, é um livro que, como Caím repudia “a violência que se
exerce sobre pessoas e sociedades que não nasceram para ser vítimas mas sim
donas das suas vidas”, escreve.
Neste livro a reflexão é especificamente sobre a guerra,
como deixa perceber o título emprestado de versos de Auto de Exortação
à Guerra, de Gil Vicente – “Alabardas, alabardas/ Espingardas,
espingardas/ Nam queirais ser genoeses/ Senam muito portugueses/ e morar em
casas pardas”. “No fundo, a reflexão sobre o poder e a violência são o mesmo
eixo. E sobre ele gira a obra de José Saramago”, lê-se no editorial escrito por
Pilar.
Sobre o enredo do livro, Pilar revela que um funcionário
de uma fábrica de armas “descobrirá, pela força das circunstâncias, que a sua
laboriosidade permite que uma engrenagem odiosa continue em movimento e a
marcar os mapas e as dominações”.
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