Homenagear o autor e estimular quem escreve “para
meninos inteligentes” é o objectivo da Tcharan, editora que acaba de criar o
prémio
Manuel António Pina, jornalista, poeta e
cronista, venceu o Prémio Camões em 2011 e morreu em Outubro de 2012, com 68
anos - Adriano Miranda
Até final de Fevereiro de 2013, autores e
editoras de todos os países de expressão de língua portuguesa podem concorrer
ao prémio de literatura para a infância e juventude criado pela Tcharan: o
Prémio Manuel António Pina. “Ainda estamos a ponderar o alargamento a
escritores espanhóis”, disse ao PÚBLICO Adélia Carvalho, responsável pela
editora, que gostaria de “dar uma dimensão ibérica” a esta distinção literária.
Serão avaliados textos publicados durante o ano
de 2012 (só inéditos, as reedições não poderão concorrer) destinados a crianças
e jovens. O vencedor ganhará 1500 euros e haverá uma menção honrosa, no valor
de 500 euros. “Nós temos os direitos do primeiro livro do [Manuel António]
Pina, O País das Pessoas de Pernas para o Ar [1973], que ele
generosamente nos concedeu. O dinheiro que fizermos com a obra será aplicado no
prémio”, explica a também autora de livros para crianças.
Além da vontade de “perpetuar a memória de um dos
primeiros escritores a dirigir-se aos leitores mais novos sem os infantilizar”,
a Tcharan quer estimular quem “escreve para meninos inteligentes” – expressão
“roubada” ao autor.
“Já andávamos a pensar na criação do prémio há
algum tempo, mas agora com o desaparecimento do Manuel António Pina achámos que
o devíamos homenagear. Falámos com a família e decidimos avançar”, disse à Lusa
Marta Madureira, que ilustrou a mais recente edição de O País das Pessoas
de Pernas para o Ar (2011) e que ajudou a fundar a editora, em 2010.
O júri será composto por Álvaro Magalhães,
escritor e amigo de Manuel António Pina, por um representante da Tcharan e por
um terceiro elemento ainda a definir, preferencialmente não ligado à produção
editorial. A obra vencedora será anunciada na Feira do Livro de Porto, agendada
para Junho.
Adélia Carvalho disse ao PÚBLICO que o
regulamento do Prémio Manuel António Pina ainda não está concluído mas
sublinhou que a expressão escrita é que será premiada – “ele era escritor,
poeta” – e não a ilustração. “Em Portugal, este formato de prémio de literatura
para a infância não existe. Aqui, qualquer um pode concorrer (excepto nós,
claro). É o mais democrático de todos. Mais do que o da Sociedade Portuguesa de
Autores, a que não se concorre.”
A editora, que também explora a livraria
Papa-Livros, no Porto, admite aumentar o valor do prémio no futuro, “caso surjam
apoios”.
Manuel António Pina, jornalista, poeta e
cronista, venceu o Prémio Camões em 2011 e morreu em Outubro de 2012, com 68
anos. De entre inúmeras obras para crianças, as mais conhecidas, pela
originalidade e pela poética, são Têpluquê, Gigões & Anantes, Pequeno
Livro da Desmatemática e O Cavalinho de Pau do Menino Jesus.
Neste último, há um conto que diz muito sobre a ousadia do autor, logo
denunciada no título: O Menino Jesus não quer ser Deus.
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