O suplemento literário do jornal The New York
Times assinalou com uma elogiosa recensão crítica o aparecimento da
primeira edição inglesa de Levantado do Chão, o romance que José
Saramago publicou em 1980 e que, através de sucessivas gerações da família
Mau-Tempo, retrata a luta antifascista nos campos do Alentejo.
O romancista, poeta e crítico literário canadiano
Steven Heighton lembra que o próprio Saramago via este livro como aquele em que
conquistara definitivamente a sua voz própria, o seu estilo, e considera Levantado
do Chão “a primeira grande obra de um grande escritor”.
Heighton observa que “pode parecer surpreendente”
o facto de esta edição inglesa só surgir “14 anos após José Saramago ter ganho
o Prémio Nobel da Literatura, e dois anos após a sua morte”, mas o crítico tem
uma explicação para esse atraso. Ao contrário de outros livros do autor, nos
quais “a política está imbricada em alegorias ou fantasias”, Levantado do
Chão seria, abertamente, uma “ficção política radical”, algo “difícil de
vender” no mercado americano.
Mas é a prosa de Saramago que cativa o crítico.
Na extensa
recensão que escreveu para a edição de 28 de Dezembro do suplemento Sunday
Book Review do The New York Times, Heighton adianta um ou outro
exemplo, mas lamenta que nenhum breve excerto possa realmente mostrar “o
feitiço que esta prosa lança ao longo de centenas de páginas”, ou deixar
adivinhar como, “dias após se ter pousado o livro, as suas cadências continuam
a flutuar na mente como uma música estranha e viciante”.
O crítico reserva ainda louvores para o
consistente trabalho da tradutora Margaret Jull Costa. E tempera os elogios a Levantado
do Chão com uma ou outra censura. Acha que os seus jogos com a linguagem
soam por vezes artificiais, critica a repetição de algumas expressões, que
assumiriam contornos de “tique”, e nota que uma cena entre grevistas e
fura-greves parece “uma dramatização para estudantes de um campo de juventude
soviético”.
Fonte:
www.publico.pt
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